Page 7 - Revista da Ordem - Edição 41
P. 7
7
Há cerca de dois anos, o senhor sofreu um acidente 2017 | SETEMBRO | REVISTA DA ORDEM
que lhe trouxe uma deficiência permanente. Como
S e tivesse de resumir em três palavras a sua isso mudou a sua vida, pessoal e profissionalmente?
vida nos últimos anos, talvez o advogado
paulistano Marcos da Costa escolhesse: “De- O acidente me causou a amputação da perna di-
ficiência, superação e cidadania”, justamente o título reita, abaixo do joelho. Era claríssimo que essa si-
do painel do qual ele participou na VI Conferência tuação iria influenciar a minha vida. Mas essa in-
Estadual da Advocacia, da OAB Paraná, no mês pas- fluência poderia ser positiva ou negativa. Eu tinha
sado. Há cerca de dois anos, já um advogado no auge que tomar uma decisão e decidi que a influência
da carreira e presidente da OAB São Paulo, a maior seria positiva. Poucos dias depois da cirurgia, saí
Seccional do país, Costa sofreu um grave acidente do hospital e já retomei minha vida, meu trabalho,
que o deixou sem parte de uma das pernas. Porém, voltei à presidência da OAB e, a partir daí, passei a
como bom advogado, ele recorreu da sentença trá- ter uma dedicação ainda maior, inclusive nos pro-
gica de sua condição, superou as limitações que lhe jetos sociais da própria Ordem, tentando usar isso
foram impostas pela deficiência e hoje é um exemplo de uma forma positiva. Hoje não tenho dúvida de
de cidadania, cada vez mais dedicado às boas causas, que minha vida mudou para melhor.
especialmente às da Ordem dos Advogados. Nesta
entrevista exclusiva à Revista da Ordem, Marcos da As pessoas com deficiência física costumam en-
Costa fala de cidadania e, principalmente, de defi- frentar um problema de deficiência estrutural no
ciências e superações – suas, da OAB e do país. Brasil: a falta de acessibilidade. Como o senhor
vive essa situação?
É uma gigantesca dificuldade. Eu passei um longo
período em cadeira de rodas e é quase impossível
para um cadeirante andar nas calçadas de São Paulo.
E também há muitas escadas, não há preocupação
com rampas. Muito poucos lugares do Brasil ofere-
cem condições ao cadeirante de usufruir da sua vida
sem grandes limitações. A cultura da acessibilidade
não existe no país, nem em espaços públicos nem
em privados. Até no meu prédio eu tive dificuldade e
precisei fazer lá uma pequena rampa para conseguir
chegar de cadeira de rodas ao elevador. Mas creio
que agora as pessoas começaram a ter uma preocu-
pação maior com a acessibilidade. Por exemplo, na
última Corrida de São Silvestre, aqui em São Paulo,
conseguimos mudar o edital poucos dias antes da
prova, fazendo com que acabasse o limite de pessoas
com deficiência na corrida e uma série de exigên-
cias que inviabilizavam a participação de paratletas.
Tive inclusive a honra de estar na São Silvestre e
promover a entrega das primeiras premiações para
pessoas com deficiência, porque até isso não exis-
tia. Então, às vezes, com o olhar um pouquinho mais
atento, a gente consegue fazer grandes mudanças,
permitindo que as pessoas com deficiência partici-
pem da vida de forma digna e plena.
O Brasil já tem mais de um milhão de advogados ins-
critos na OAB, sendo que a Seccional de São Paulo,
que o senhor dirige, é a que congrega o maior número
de profissionais. Que análise faz desse quadro?
Eu acabo de entregar a carteira número 400 mil em
São Paulo! Mas não é só a questão numérica, é ques-
tão da qualidade. Esse número grande de advogados
é resultado da abertura indiscriminada de faculdades
de Direito, muitas das quais, infelizmente, não con-